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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O tal do Livro Vermelho.

Chovia. Olhei pela janela e mal conseguia ver a cidade. Além dos respingos de água no vidro, a neblina ajudava a embaçar a vista que eu tinha do décimo terceiro andar do prédio. Era uma das paisagens mais bonitas da cidade, te garanto. Mas com a chuva que caia, o que eu via dali só deixava uma sensação de angústia. De pés descalços e pijama ainda um pouco amassado, saí do quarto, e atravessando o corredor, me deparei com uma caixa de papelão onde havia meu nome escrito com caneta grossa e em letras grandes. Não hesitei em abri-la, e o que havia dentro dela me trouxe boas lembranças.
Era ali que estavam as cartas, objetos, bilhetes e todas as lembranças que eu tinha de quando morávamos em Washington. Já tinha me adaptado ao ritmo brasileiro, afinal, cinco anos morando aqui não é qualquer coisa. Gosto bastante dessa cidade; ter o mar a sua disposição realmente é bem empolgante. Mas nada se compara a tudo que eu vivi nos Estados Unidos; montei toda minha história lá e fora obrigada a partir sem ao menos ter a chance de termina-la com um final feliz. Mas tive a oportunidade de recomeçá-la por aqui, o que por sinal está dando certo.
Peguei a pesada caixa que estava no chão e a levei para o quarto. Joguei-a na cama, me sentei e depois de revirar algumas coisas por ali, encontrei um livro de capa vermelha aveludada. Confesso que quando o vi, senti meus olhos se encherem d'água. Fiquei um pouco em choque com o que havia encontrado, afinal, eu tinha quase toda a certeza de que tinha o perdido na viagem. Era o meu livro. O livro que eu montara durante toda a minha infância e parte da adolescência que passara nos Estados Unidos. Nele haviam fotos coladas com cola branca, desenhos rabiscados com giz de cera e pequenas anotações nos roda-pés das páginas. Cada capitulo que eu separara daquele caderno, representava uma época da minha vida, e quem nela havia estado. Poderia dizer que toda minha história estava arquivada ali, naquele livro vermelho.
Passei a palma da mão na capa, com o intuito de tirar um pouco da poeira que estava ali, e pude ver melhor as imagens coloridas que me fizeram lembrar, como se fosse hoje, de tudo. Estava com um aspecto meio antigo. Fui brutalmente atingida pela saudade ao folhear cada página daquilo, o que me fez cair em um choro descontrolado. Mas eu só senti uma sensação diferente quanto parei na metade do livro, na página quarenta e nove, para ser mais precisa. Foi quanto eu passei os olhos por todas aquelas fotografias de amor, todos os corações avermelhados que haviam sido desenhados com canetinha, e todas as frases apaixonadas que foram escritas a lápis. Havia escrito-as a lápis, para que pudesse apagá-las depois.
E me deu mais saudade ainda. Saudade de quando eu amei e fui amada, de quando eu acreditava que poderia ser feliz para sempre, de quando eu pensava que o 'para sempre' realmente existia. Saudade da inocência que eu ainda tinha naquela época, e do coração intacto que eu carregava comigo. Saudade de ser quem eu era. Saudade de ter quem eu tinha.
Mas aquele livro vermelho serviu para me ensinar que um dia a vida te obriga a abrir os olhos e seguir em frente, mesmo que para isso você tenha que mudar de país. Mudar faz bem; mas recomeçar, faz um bem maior ainda.

*texto fictício*

Beijos e me liga pra contar quantas vezes já te obrigaram a mudar :*


PS: Fiquei super feliz por saber que todos gostaram do novo layout do blog *-*
PS2: Comente, deixe sua marquinha aqui :)

7 comentários:

  1. Olá não tão Sofia =)
    Adoro seus textos e que bom que está de volta!
    Feliz 2011 *---*

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  2. Você manda bem em contos, gostei muito!
    eu leio todos *-*

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  3. Que texto maravilhoso! "Saudade de quando eu amei e fui amada." Isso é o que sinto falta todos os dias.
    Beijos

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  4. Permaneceram guardados, acima de tudo em você (:
    isso acaba deixando saudades !

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  5. Maaal caminho, eu ameeeeeeeeeeeei esse texto, com certeza é um dos melhores que ja li .-.

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  6. Que texto mais lindo, cheguei a chorar.
    Lembranças boas e saudade é uma combinação perfeita que deixa qualquer um com olhos cheio d'água.

    seguindo aqui :)

    www.sorvete-de-morango.blogspot.com

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  7. Lembre da infância,
    Muito bom o texto (:

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Não leio mentes ainda, então não vou saber o que você achou a menos que comente.